“Não sou Política”
Em
1999, Corália Rodrigues aceitou o convite de Manuel Varges em integrar a
Comissão Instaladora do Município de Odivelas. Na época, e sem qualquer tipo de
ligação direta aos partidos políticos, tinha como função dirigir o Gabinete de
Comunicação, Relações Públicas e Protocolo.
Volvidos
14 anos, e com um novo desafio em mãos, Corália Rodrigues assume que ser
Presidente da Junta é um desafio apaixonante.
Como é que adere ao Partido
Socialista?
Sempre
procurei tentar que a minha conduta de trabalho fosse igual com qualquer que
fosse o partido político, no entanto, o facto de estar associada a uma Câmara
que era dominada pelo Partido Socialista, sempre fui conotada ao partido. A
verdade é que também sempre me identifiquei mais com o PS.
A
minha adesão ao Partido Socialista vem de um convite feito por Manuel Varges,
primeiro Presidente da Câmara de Odivelas, e como me revia nos seus valores,
aceitei o convite. Posteriormente, a Susana Amador, atual Presidente da Câmara
de Odivelas, convidou-me a integrar a Comissão Política e claro, aceitei.
Quanto
à minha candidatura à Presidência da União da Freguesia da Pontinha e de
Famões, fui convidada pelo antigo Presidente da Junta da Freguesia da Pontinha,
José Guerreiro, para ser vogal da Junta, e respondi imediatamente “eu não, não
sou política”. Entretanto, ele faleceu e eu senti-me no dever de ajudar o PS,
para que esta casa não desmoronasse.
Durante a sua campanha eleitoral, a
Coligação “Odivelas Merece Mais” apresentou uma queixa formal ao Ministério
Público por causa do seu panfleto. Que queixa foi esta? Acha que prejudicou a
sua campanha de alguma forma?
É
a chamada “ignorância” de quem está a fazer campanha pela primeira vez. O que
realmente aconteceu foi que fizemos um primeiro panfleto e, na altura o António
Rodrigues, antigo Presidente da Junta de Freguesia de Famões, deu-me um texto e
assumimo-lo como se fosse da Junta. Entretanto, eu e o Paulo Ribeiro, diretor
de campanha, não sabíamos e nem lemos que esse mesmo texto vinha nos panfletos
da Câmara Municipal de Odivelas. É óbvio que nos justificámos e pedimos
desculpa, mas não íamos deitar os panfletos para o lixo. Levámos uma repreensão
do Ministério Público e esta situação não podia voltar a acontecer.
Não
me senti prejudicada, pelo contrário, deu-me publicidade. Esta situação não
teve qualquer efeito para o exterior, só tenho pena do que a imprensa local
vale. Infelizmente não vale muito, por isso, gostaria de ter uma imprensa mais
feroz, porque me obrigaria a ficar mais atenta e desperta.
Na
altura do sucedido, eu tive uma reunião com o presidente e disse
“fiscalize-me”, porque ao fiscalizar-me está a obrigar-me a fazer o meu
trabalho bem feito e não sou avaliada de quatro em quatro anos pela população.
Mas
pronto, considero que esta foi a menor das adversidades durante a campanha.
Para mim, a maior adversidade foi uma ameaça de uma candidatura independente do
anterior presidente da Junta de Freguesia da Pontinha. Até dia 26 de Julho,
senti que tinha uma “espada em cima da minha cabeça”. Portanto, considero que
esta campanha foi muito “suada e chorada”.
Diz que a dinamização do comércio
local e a intervenção nos mercados municipais são uma prioridade. O que
pretende mudar e de que forma?
A
Pontinha é uma vila que sempre foi conhecida pelo comércio tradicional, mas
infelizmente está a decair devido às grandes superfícies. No entanto, tenho de
culpar um pouco os comerciantes tradicionais, porque não investiram nas suas
montras e não há agressividade no marketing.
A
meu ver, o comércio tradicional tem de começar do zero, ou seja, tem de ser
reinventado e entrar na moda. Por isso, o meu objetivo é fazer ver às pessoas
que nós temos tudo aqui na Pontinha e de fazer ver aos comerciantes que a loja
deles é a cara do seu comércio.
Então,
aos poucos, estou a implementar o conceito de vitrinismo nas lojas e depois
disso, pretendo criar o evento «Pontinha by night», cujo comércio está aberto
até à meia-noite.
Quanto
ao mercado, comecei por criar uma iniciativa que foi a «feira de trocas», mas
esta não teve muita adesão. Então depois pensei num tipo de «Feira do Relógio»,
onde as pessoas vendem os seus artigos, aos domingos, no mercado da Pontinha.
Está a ser um sucesso.
Quais as propostas/iniciativas para
a União da Freguesia da Pontinha e Famões?
Eu
não tenho grandes projetos. Durante este primeiro mandato, os meus projetos
para a Pontinha e Famões estão na base de corrigir erros do passado. Quero
tornar a Pontinha mais limpa, quero arranjar a estrada e os espaços verdes e
quero um projeto de arte urbana. No «Parque da Paiã, quero criar um parque
infantil e colocar um quiosque. Pretendo que a Pontinha chegue ao nível de
Famões.
Concorda com a União de Freguesias
que o Governo fez com o objetivo de reduzir os custos nas despesas?
Não,
eu concordo com a união de freguesias em algumas áreas caso haja acordo com os
autarcas. Uma freguesia como a Pontinha, que já é grande e diversificada em
termos de população, juntar-se a Famões, que é uma zona ainda maior e que em
nada tem a ver com a Pontinha, “não bate a bota com a perdigota”. É a mesma
situação que Caneças, que é completamente rural, estar unida à Ramada, que é
completamente urbana.
Isto
só tem uma justificação, que é, nós estamos a preparar o caminho de “hoje para
amanhã” haver a extinção dos municípios. E a poupança nesta situação é zero.
Poupa-se um ordenado de um presidente de junta, porque o resto dos vogais não
recebem, mas aquilo que os presidentes das freguesias têm de se deslocar e a
quantidade de pessoas que têm para os ajudar a gerir as freguesias paga
provavelmente um ordenado daquele presidente de junta.
Agora
se pensarmos no caso de Lisboa, que tinha freguesias que era só uma rua, aí
claro que concordo. Portanto, cada caso é um caso. Lisboa realmente tinha de
ser reajustada à realidade.
Nestas eleições autárquicas houve
muitas abstenções. Acha que cada vez menos os portugueses se interessam pela
política ou é uma forma de mostrarem o seu descontentamento?
Eu
não avalio a abstenção, avalio sim, os votos nulos e os votos em branco. Os
cidadãos para mostrarem o seu descontentamento têm de ir votar e, no meu
entender, os maus cidadãos não votam.
No
entanto, temos de avaliar o que é isto de «abstenção». Este ano, a abstenção
atingiu os 47,4% mas, se analisarmos bem a situação do país, temos de ter em
atenção o atual número de emigrantes e de pessoas que estão deslocadas da sua
residência e têm o seu recenseamento noutro sítio, aos idosos que estão
acamados, ao número de cidadãos que não vota devido ao seu culto religioso,
etc… Portanto, eu acho que a abstenção, cada vez mais, tem de ser avaliada,
porque é uma falsa realidade.
Os
cidadãos têm de entender que mais do que ser um direito, votar é um dever e eu,
cada vez mais, penso que deveria ser uma obrigação.
Temos
o exemplo da Serra da Luz, que pertence à Freguesia da Pontinha, onde as
pessoas não votam, mas no entanto, exigem-nos. Como tudo na vida, há bons e
maus políticos, há bons e maus cidadãos.