Translate

domingo, 30 de novembro de 2014

Entrevista a Corália Rodrigues



“Não sou Política”

Corália Rodrigues, de 39 anos, assume ser uma mulher que gosta de agradar a “gregos e troianos”. É natural de Loures, mas foi pela Pontinha, terra que viu nascer e crescer o marido, que se candidatou e venceu, pela primeira vez, as eleições autárquicas para a Presidência da União da Freguesia da Pontinha e de Famões pelo Partido Socialista, com 37,6% dos votos (mais 15,4% que a CDU).
Em 1999, Corália Rodrigues aceitou o convite de Manuel Varges em integrar a Comissão Instaladora do Município de Odivelas. Na época, e sem qualquer tipo de ligação direta aos partidos políticos, tinha como função dirigir o Gabinete de Comunicação, Relações Públicas e Protocolo.
Volvidos 14 anos, e com um novo desafio em mãos, Corália Rodrigues assume que ser Presidente da Junta é um desafio apaixonante.

Como é que adere ao Partido Socialista?
Sempre procurei tentar que a minha conduta de trabalho fosse igual com qualquer que fosse o partido político, no entanto, o facto de estar associada a uma Câmara que era dominada pelo Partido Socialista, sempre fui conotada ao partido. A verdade é que também sempre me identifiquei mais com o PS.
A minha adesão ao Partido Socialista vem de um convite feito por Manuel Varges, primeiro Presidente da Câmara de Odivelas, e como me revia nos seus valores, aceitei o convite. Posteriormente, a Susana Amador, atual Presidente da Câmara de Odivelas, convidou-me a integrar a Comissão Política e claro, aceitei.
Quanto à minha candidatura à Presidência da União da Freguesia da Pontinha e de Famões, fui convidada pelo antigo Presidente da Junta da Freguesia da Pontinha, José Guerreiro, para ser vogal da Junta, e respondi imediatamente “eu não, não sou política”. Entretanto, ele faleceu e eu senti-me no dever de ajudar o PS, para que esta casa não desmoronasse.

Durante a sua campanha eleitoral, a Coligação “Odivelas Merece Mais” apresentou uma queixa formal ao Ministério Público por causa do seu panfleto. Que queixa foi esta? Acha que prejudicou a sua campanha de alguma forma?
É a chamada “ignorância” de quem está a fazer campanha pela primeira vez. O que realmente aconteceu foi que fizemos um primeiro panfleto e, na altura o António Rodrigues, antigo Presidente da Junta de Freguesia de Famões, deu-me um texto e assumimo-lo como se fosse da Junta. Entretanto, eu e o Paulo Ribeiro, diretor de campanha, não sabíamos e nem lemos que esse mesmo texto vinha nos panfletos da Câmara Municipal de Odivelas. É óbvio que nos justificámos e pedimos desculpa, mas não íamos deitar os panfletos para o lixo. Levámos uma repreensão do Ministério Público e esta situação não podia voltar a acontecer.
Não me senti prejudicada, pelo contrário, deu-me publicidade. Esta situação não teve qualquer efeito para o exterior, só tenho pena do que a imprensa local vale. Infelizmente não vale muito, por isso, gostaria de ter uma imprensa mais feroz, porque me obrigaria a ficar mais atenta e desperta.
Na altura do sucedido, eu tive uma reunião com o presidente e disse “fiscalize-me”, porque ao fiscalizar-me está a obrigar-me a fazer o meu trabalho bem feito e não sou avaliada de quatro em quatro anos pela população.
Mas pronto, considero que esta foi a menor das adversidades durante a campanha. Para mim, a maior adversidade foi uma ameaça de uma candidatura independente do anterior presidente da Junta de Freguesia da Pontinha. Até dia 26 de Julho, senti que tinha uma “espada em cima da minha cabeça”. Portanto, considero que esta campanha foi muito “suada e chorada”.

Diz que a dinamização do comércio local e a intervenção nos mercados municipais são uma prioridade. O que pretende mudar e de que forma?
A Pontinha é uma vila que sempre foi conhecida pelo comércio tradicional, mas infelizmente está a decair devido às grandes superfícies. No entanto, tenho de culpar um pouco os comerciantes tradicionais, porque não investiram nas suas montras e não há agressividade no marketing.
A meu ver, o comércio tradicional tem de começar do zero, ou seja, tem de ser reinventado e entrar na moda. Por isso, o meu objetivo é fazer ver às pessoas que nós temos tudo aqui na Pontinha e de fazer ver aos comerciantes que a loja deles é a cara do seu comércio.
Então, aos poucos, estou a implementar o conceito de vitrinismo nas lojas e depois disso, pretendo criar o evento «Pontinha by night», cujo comércio está aberto até à meia-noite.
Quanto ao mercado, comecei por criar uma iniciativa que foi a «feira de trocas», mas esta não teve muita adesão. Então depois pensei num tipo de «Feira do Relógio», onde as pessoas vendem os seus artigos, aos domingos, no mercado da Pontinha. Está a ser um sucesso.

Quais as propostas/iniciativas para a União da Freguesia da Pontinha e Famões?
Eu não tenho grandes projetos. Durante este primeiro mandato, os meus projetos para a Pontinha e Famões estão na base de corrigir erros do passado. Quero tornar a Pontinha mais limpa, quero arranjar a estrada e os espaços verdes e quero um projeto de arte urbana. No «Parque da Paiã, quero criar um parque infantil e colocar um quiosque. Pretendo que a Pontinha chegue ao nível de Famões.

Concorda com a União de Freguesias que o Governo fez com o objetivo de reduzir os custos nas despesas?
Não, eu concordo com a união de freguesias em algumas áreas caso haja acordo com os autarcas. Uma freguesia como a Pontinha, que já é grande e diversificada em termos de população, juntar-se a Famões, que é uma zona ainda maior e que em nada tem a ver com a Pontinha, “não bate a bota com a perdigota”. É a mesma situação que Caneças, que é completamente rural, estar unida à Ramada, que é completamente urbana.
Isto só tem uma justificação, que é, nós estamos a preparar o caminho de “hoje para amanhã” haver a extinção dos municípios. E a poupança nesta situação é zero. Poupa-se um ordenado de um presidente de junta, porque o resto dos vogais não recebem, mas aquilo que os presidentes das freguesias têm de se deslocar e a quantidade de pessoas que têm para os ajudar a gerir as freguesias paga provavelmente um ordenado daquele presidente de junta.
Agora se pensarmos no caso de Lisboa, que tinha freguesias que era só uma rua, aí claro que concordo. Portanto, cada caso é um caso. Lisboa realmente tinha de ser reajustada à realidade.

Nestas eleições autárquicas houve muitas abstenções. Acha que cada vez menos os portugueses se interessam pela política ou é uma forma de mostrarem o seu descontentamento?
Eu não avalio a abstenção, avalio sim, os votos nulos e os votos em branco. Os cidadãos para mostrarem o seu descontentamento têm de ir votar e, no meu entender, os maus cidadãos não votam.
No entanto, temos de avaliar o que é isto de «abstenção». Este ano, a abstenção atingiu os 47,4% mas, se analisarmos bem a situação do país, temos de ter em atenção o atual número de emigrantes e de pessoas que estão deslocadas da sua residência e têm o seu recenseamento noutro sítio, aos idosos que estão acamados, ao número de cidadãos que não vota devido ao seu culto religioso, etc… Portanto, eu acho que a abstenção, cada vez mais, tem de ser avaliada, porque é uma falsa realidade.
Os cidadãos têm de entender que mais do que ser um direito, votar é um dever e eu, cada vez mais, penso que deveria ser uma obrigação.

Temos o exemplo da Serra da Luz, que pertence à Freguesia da Pontinha, onde as pessoas não votam, mas no entanto, exigem-nos. Como tudo na vida, há bons e maus políticos, há bons e maus cidadãos.

1 comentário: